30 março, 2011

Faz-me um like


O Facebook é, de facto, um fenómeno e pêras.

Tem coisas boas e coisas más. Vou começar a prosa pelas coisas boas.

Uma das coisas que me dá mais gozo é a sensação de "estarmos juntos". Ou seja, é uma forma de não perdermos contacto com uma série de pessoas que, não sendo as mais importantes do mundo para nós, são pessoas de quem gostamos e que nos interessam. É curioso observar os seus percursos, os seus gostos, etc.

Não foram poucas as pessoas que, conhecia "ao de leve", e se vieram a revelar como indivíduos que, afinal, têm muitas coisas em comum comigo. Música, filmes, causas e afins. Mas essencialmente em relação ao sentido de humor, que é das coisinhas mais importantes do mundo.

É curioso verificar como pessoas tão diversas se riem das mesmas coisas que eu, observam pequenos detalhes do dia-a-dia como eu, and so on. Há um qualquer conforto em partilhar risadas. Dou por mim a pensar: "Aquele tipo afinal... deve ser um porreiro" ou "Aquela gaja afinal... tem a sua piada".

E isto foi acontecendo ao longo dos últimos anos, até que de certa forma se cria uma espécie de "tribo". Hoje em dia, à partida, já sei quem são as pessoas que provavelmente vão gostar daquela música, ou se vão rir de uma idiotice que me apeteceu partilhar. E elas sabem o mesmo em relação a mim.

Ainda que, quiçá de uma forma estranha, há relações que criamos quase exclusivamente nesta plataforma. And I see no evil.

Mas também há pontos negativos.

Não raras vezes surge o fenómeno "fulano que f*** o post com um comentário zero". Um tipo publica uma música cheia de pinta e há um gajo que escreve: "Então pá, foste fonêlias?"

Felizmente surgiu o like para os comentários que recebemos. Embora sirva (juro) essencialmente para dizer: "não tenho nada a acrescentar, mas gostei do que disseste", também serve (menos vezes, juro) para "f***-se nem sei o que dizer em relação à m**** que escreveste, mas sinto-me na obrigação de me manifestar".

Temos também os stalkers, que são mais comuns nas walls das mulheres.

O stalker (também pode ser fêmea, claro) gosta de tudo, faz "likes" a tudo, comenta tudo, mas sempre numa onda positiva. No espírito "se eu te fizer buédalikes pode ser que tu te venhas".

Não tenho nada contra o flirt, pá. Até gosto. Mas há pessoal que cai no ridículo. Nunca vi tanto batimento manhoso como observo no Facebook.

Os meus preferidos são os analfabetos, que para agravar o conteúdo do batimento, o fazem com erros ortográficos. "Uau, à muito tempo que não via ums olhus tão locos, e um corpo acim".

O stalker gosta de tudo. Fotos da pessoa a cagar, hip hop, reggae, heavy metal, mensagens políticas, direitos dos animais, das músicas daquele tipo da Rádio Comercial, de bifes, de comida vegetariana, de finais de tarde, do amanhecer, de cavalos, de motas, do Futre, de falar mal do Sócrates e do vermelho.

Há também que faça partilha excessiva. Pessoal que não sabe bem onde traçar a linha do que é "partilhável" ou nem tanto.

"Como se não bastasse estar de caganeira, vomitei-me todo..."

Mas pior do que isto são as pessoas que exageram claramente no que à sua vida sentimental diz respeito. Num dia estão felizes de uma forma enjoativa, no outro tristes que dói.
Variam entre:

"Quero que o mundo todo saiba o quanto te amo bebé. Fazes-me feliz, fazes-me cafuné e gosto do cheiro dos teus puns!"

e:

"Realmente não vale a pena amar, espero que ardas no Inferno. Na cama pareces um saco de batatas."

Caramba, pá. Há formas mais subtis de partilhar as coisas. Mas pensando bem... sem estas figurinhas a coisa perdia alguma piada.

Para finalizar duas espécies deveras irritantes: O Zé Citações e a Maria Feliz.

Não há pachorra para citações se não forem bem geridas. E como é que podem ser bem geridas? Para começar, serem originais e não aquelas que toda a gente repete até à exaustão. E depois, em quantidades mais pequenas.

A Maria Feliz é aquela personagem que todos os dias grita ao mundo:

"Bommmmmmmmm diaaaaaaaaaaaaaa tooooooooooooou tãoooooooo feeeeeeelizzzz outra veeeeeeeezzzz, tal coooomo estaaava oooooontemmmmm e vou estaaarr amanhãaaaaaaaaaa! Tá sooooooool e euuuuuu teeeeenhoooo deeeeeeeeee aaaandaaaar coooom umaaaaa muuuuuda deeee cueeecas porqueeee estooooou seeeeempre tãaaaao feliiiiz queee atéee meee mijoooo".

Ninguém está sempre alegre, Maria. Fuck off.


3 comentários:

Unknown disse...

Boa, Ivo! Bela crónica, bem observado.

É um bocado como ter acesso ao blog de uma data de gente. O problema é que há coisas que não controlas. No meu caso, aconteceu-me ter 'lá' a família toda, com direito a "não-sei-quantos listed you as her/his daughter/sister". Enfim, ao menos não tenho stalkers. A não ser que gajas (heterossexuais) contem.

Além das marias sempre alegres (sobretudo marias, há poucos manéis tão contentes) e das joanas que deixam frases do Dalai Lama (neste campo já há um ou outro joão), tudo coisas que me aborrecem de morte, há ainda aqueles que escrevem em facebookês. Muitas reticências, demasiados pontos de exclamação, demasiada gritaria, estás a ver quem são? Em facebookês este comentário começava assim: "BOA, IVO!!!!!!! Bela crónica!!!!! Bem observado!!!!!"

O Facebook, bem como o mundo, não era o mesmo sem o ridículo, esse bálsamo. Mas bom, bom é mais ou menos tudo o que disseste na primeira parte do texto. Olha para mim e para ti, por exemplo. Aposto que, se o Facebook não existisse, não 'falava' contigo há anos e, provavelmente, não sabia que, afinal, és um tipo porreiro, com quem gosto de partilhar risadas (mesmo que virtualmente).

Ups, estiquei-me um bocado. Mas o teu texto merecia. Escreve, Ivo. Tu escreve!

Edmund disse...

F***-se ó Ivo. Urinei-me de tanto rir.

Ivo disse...

Ahahahah, urina-te aí!!! ;)